Sem sombra de dúvidas, a soja é o grão mais produzido no Brasil.
Segundo um levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a soja, juntamente com o milho, representaram 87% de toda a produção de grãos em solo nacional nas safras 2020/2021, batendo um recorde de 257 milhões de toneladas produzidas.
Logo, não há como negar o expressivo impacto desse grão na economia nacional, bem como o enorme faturamento em toda a cadeia produtiva.
Porém, um estudo da Sociedade Brasileira de Agricultura (SNA) revelou que, já em 2015, as más condições de transporte de grãos representou perdas de 2,5 milhões de toneladas naquele ano.
Como, então, contornar os desafios do transporte de soja para reduzir ao máximo as perdas e otimizar os ganhos com esse produto tão rico na nossa cultura agrícola?
É isso que apresentaremos neste artigo, destinado a você, profissional de logística ou produtor agrícola. Acompanhe!
Principais meios de transporte de soja
O primeiro passo para minimizar as perdas com o transporte de soja está em entender quais são os meios de transporte mais utilizados no Brasil para a locomoção deste grão.
Após a colheita de soja, é preciso dar vazão ao grão.
Para isso, escolher o modal de transporte ideal para as necessidades do produto é o primeiro passo para garantir que chegue ao consumidor final um produto de qualidade e dentro do esperado.
Além disso, a escolha do modal de transporte adequado também representa redução de perdas ao longo deste processo e, para isso, é importante levar em consideração alguns critérios, como:
- Velocidade de entrega;
- Frequência de envio;
- Credibilidade da transportadora;
- Capacidade e disponibilidade de atendimento;
- Custo do serviço prestado.
Em um estudo realizado em 2017, sobre a perda de soja no pós-colheita, apresentou-se os principais meios de transportes utilizados no Brasil para a movimentação de grãos em solo nacional, que pode ser conferido abaixo:
- Rodovias: 61,1%
- Ferrovias: 20,7%
- Hidrovias: 13,6%
- Aéreo: 0,4%
- Outros: 4,2%
A seguir, falaremos um pouco mais sobre os três principais: rodoviário, ferroviário e aquaviário
Modal Rodoviário
De forma geral, o transporte rodoviário é o mais utilizado no Brasil para movimentações internas.
Isso se deve, dentre outros motivos, pelo baixo investimento governamental ao longo do anos em outras alternativas de transporte
Desta forma, as rodovias tornaram-se meio mais econômico para a distribuição de mercadorias em locais sem transportes alternativos ou apresentação de meios naturais para isso.
Também em razão disso, o transporte rodoviário se torna mais competitivo e acessível, visto que as estradas conectam o país de norte a sul, como também apresenta maior número de fornecedores nacionais.
Apesar de esse tipo de transporte representar 65% de todo o transporte nacional, segundo o Relatório Executivo do Plano Nacional de Logística 2025, ainda apresenta vários desafios, como a precarização das vias e baixo investimento na manutenção das estradas.
Tudo isso resulta na quebra de caminhões utilizados para o transporte do grão e atraso na entrega. Isso tem, como consequência, a longa paralisação dos grãos e a perda significativa de valor, visto que esse modal é ideal apenas para curtas ou médias distâncias (transporte rápido).
Modal Ferroviário
O transporte ferroviário é o segundo mais utilizado no país.
Apesar da malha ferroviária brasileira não ser tão desenvolvida quanto a dos Estados Unidos (principal concorrente na exportação de soja), ainda é um meio muito útil no escoamento deste tipo de produto.
Segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), o Brasil conta com 30.557 km em seu mapa ferroviário.
Para se tornar mais competitivo, é necessário um maior investimento nessa área e assim diminuir os gargalos de escoamento do produto que esse modal pode atender com maior facilidade.
Essa falta de estruturação e de investimento impacta em outro fator: a velocidade de entrega, visto que vias mais sinuosas e com pouco planejamento obrigam os trens a reduzirem a velocidade para evitar acidentes.
Tudo isso encarece o processo e torna menos vantajosa a sua adoção em determinados casos.
Apesar disso, o modal ferroviário ainda é um excelente meio de transporte para commodities, grandes escalas e longas distâncias.
Modal Aquaviário
Em terceiro lugar está o transporte aquaviário, ou também conhecido como hidroviário.
Nessa modalidade, os transportes acontecem por meio de barcos, podendo ser de três formas:
- Cabotagem: feita ao longo da costa brasileira;
- Interior: feita por meio de hidrovias para o interior ou exterior do país;
- Navegação de longo curso: quando a mercadoria é carregada no porto e levada por alto mar.
Apesar de muito utilizado na exportação internacional de grãos, em termos de utilização nacional, ainda há poucas vias hídricas para o transporte aquaviário, mesmo o país sendo inteiramente cortado por grandes rios.
Esse modal apresenta características como:
- Eficiência;
- Baixo impacto ambiental quando comparado a outros modais;
- Menor custo operacional;
- Maior capacidade de concentração de cargas;
- Congestionamento mínimo.
O principal fator a ser analisado na sua utilização é o custo, visto que, em geral, se houver uma boa integração dos sistemas de logística e transporte, esse modal se torna economicamente viável.
Mas, como comentamos no início deste tópico, é preciso analisar as necessidades e características de cada transporte para tomar a melhor decisão de utilização.
Para isso, abaixo preparamos uma tabela com alguns comparativos que te ajudarão na melhor escolha.
Atributos | Barco | Trem | Caminhão |
Peso morto por tonelada transportada | 350kg | 800kg | 700kg |
Força de tração – 1 CV arrasta sobre | 4000kg | 500kg | 150kg |
Energia: 1kg de carvão mineral leva 1 tonelada | 40km | 20km | 6,5km |
Investimentos para transportar mil toneladas, em milhões de US$ | 0,46 | 1,55 | 1,86 |
Quantidade de equipamento para transportar mil toneladas | 1 empurrador e 1 balsa | 1 locomotiva e 50 vagões | 50 cavalos mecânicos e 50 reboques |
Distância (km) percorrida com 1 litro de combustível e carga de 1 tonelada | 219km | 86km | 25km |
Vida útil em anos de uso | 50 | 30 | 10 |
Custo médio (R$/km) toneladas por km transportado | 0,009 | 0,016 | 0,056 |
Cuidados essenciais no transporte da soja
Mas, afinal, quais cuidados são necessários para se realizar o transporte de soja?
O manuseio e cuidado com o transporte de soja tange as principais características que tornam a soja tão valiosa: o alto nível de oleosidade e teor de gordura.
Tais características tornam o produto muito suscetível à perda de qualidade em altas temperaturas que podem acontecer de forma espontânea, por meio de um auto-aquecimento.
Se esse processo acontecer, não tem mais volta.
Mesmo se retornado a uma temperatura ideal de conservação, os aspectos físicos e fisiológicos são irreversíveis, tornando-a imprópria para o consumo alimentício.
Mesmo que ainda podendo ser utilizada para outras finalidades, como para a produção de cosméticos, imagine se esse processo ocorre em trânsito…
Ao chegar em sua destinação final, todo um lote pode se tornar inutilizável, dependendo do comprador.
Em casos mais extremos, se há uma desatenção a essa característica do produto, corre um grande perigo de toda a carga gerar ignição e, de fato, pegar fogo, tornando-se não só um prejuízo, mas um risco à vida dos envolvidos no processo de transporte.
Por isso, é importante que o transporte seja feito de forma programada, e respeitando o tempo do produto, como também suas características naturais.
Outro ponto importante também é contar com uma transportadora adequada e especializada no trânsito deste produto, garantindo segurança e qualidade.
Sendo assim, separamos 4 pontos de atenção no momento de contratação de transportadoras do seu produto.
1. Caminhões adequados
Caminhões adequados consistem em apresentar condições ideais de armazenamento e transporte, por meio de equipamentos e acessórios que garantirão a menor perda de grãos no processo.
É preciso lembrar também que as más condições das rodovias brasileiras impactam (e muito) nessas perdas. Ter caminhões adequados para essa atividade reduzem os prejuízos causados por variáveis incontroláveis.
2. Correta armazenagem
E por falar em armazenagem, o caminhão precisa ter uma boa vedação que garanta maior controle de temperatura e evite o contato direto com a claridade e a umidade.
Essas são variáveis que impactam no processo de auto-aquecimento que mencionamos anteriormente.
3. Procedimento de limpeza do veículo
Outro ponto de atenção é a aplicação de procedimentos de limpeza dos caminhões, visto que entre uma entrega e outra, podem ficar vestígios de grãos de cargas anteriores que contaminam o lote de soja a ser transportado.
4. Trace rotas seguras
Além de más condições das vias rodoviárias, o roubo ou furto de mercadorias infelizmente é uma realidade na logística agrícola.
Por isso, realizar um planejamento de roteiro de entrega antes de sair do armazém é fundamental para evitar prejuízos e riscos no processo de entrega.
Como é feita a armazenagem antes do transporte?
Como mencionamos no tópico anterior, a armazenagem de grãos de soja, pelas suas próprias características, tende a gerar certa fermentação, resultando na inutilização do produto para diversos fins.
No mesmo estudo já citado neste artigo, é apresentado que, no Brasil, o percentual de perda no processo de transporte de soja atinge o patamar de 3%, sendo que a média mundial é de apenas 1%.
Isso representa uma enorme perda!
Para evitar que isso ocorra, o pós-colheita é essencial para garantir a qualidade do produto até o momento de transporte.
Quando falamos sobre armazenagem de soja, o processo mais utilizado e indicado é o armazenamento em silos.
Para ele ocorrer, é preciso passar pelo processo de secagem do grão e estar no teor de umidade adequado.
No nosso blog, temos um artigo completo contando sobre o processo de colheita da soja, desde o plantio, passando pelos estágios para realizar a coleta desses grãos e de maturação fisiológica da planta para isso.
De forma resumida, o ideal é que os grãos estejam com um teor de umidade de 11% para se realizar um armazenamento de até 1 ano.
Para um período maior que esse, o teor de umidade precisa estar entre 9% e 10%.
É preciso também estar atento à umidade relativa do ar e temperatura ambiente, além de realizar a aeração, processo mecânico que permite a circulação do ar pelos grãos para o controle de temperatura e melhorar as condições de armazenamento.
Tudo isso garantirá a qualidade do grão pós-colheita, enquanto permanece à espera do seu transporte.
Um grão rico, mas que necessita de cuidados
E como vimos ao longo do texto, a soja possui uma enorme vantagem pela possibilidade lucrativa.
Estar atento às condições ideais de transporte deste grão garantirão que se alcance suas maiores potencialidades do comércio deste grão.
E se você quer saber mais sobre o mundo da logística e agronegócio, assine a newsletter da Equipacenter para receber os conteúdos do nosso blog.