Sem dúvidas, o trigo é um dos grãos mais consumidos no Brasil.
Em médio, o brasileiro consome 40,62 kg de trigo por ano, revela a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Só em 2020, foram consumidas 12.513 milhões de toneladas do grão no país, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
São dados que revelam como este alimento está intrinsecamente ligado à nossa cultura alimentícia, bem como o mesmo influencia na movimentação da economia.
Porém, para um trigo de boa qualidade, seu plantio requer grande atenção às condições meteorológicas, logo que, se não cuidado, toda a colheita do trigo pode ser afetada negativamente.
Quer saber mais sobre o ciclo de cultura e como realizar uma boa colheita do trigo? Então, acompanhe esse artigo que preparamos sobre o assunto.
Qual é o ciclo na cultura de trigo?
Assim como toda cultura, o trigo também tem o seu ciclo de produção.
Esse grão, assim como a soja, requer grande atenção ao clima, logo que a umidade do solo influencia em seu desenvolvimento.
Porém, pela dimensão continental do país, com suas grande variações de clima por região, a grande dica é verificar o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para o trigo.
Este é um documento disponibilizado e atualizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que acompanha as condições climáticas e indica as melhores épocas do ano para seu cultivo.
Neste link está disponível o passo a passo para acessar estas informações.
Após checar o período ideal para o cultivo, entra o momento de verificar a umidade e temperatura do solo.
Para facilitar, preparamos uma tabela explicativa com as condições ideais de umidade e temperatura do solo, para cada etapa:
Fase de Desenvolvimento | Temperatura do Solo | Temperatura do Solo |
---|---|---|
Emergência (Plantula) | 15°C | 120 mm (50 – 200 mm) |
Perfilhamento + Alongamento | Entre 8°C e 18°C | 5 mm/mês (30 a 80 mm) |
Espigamento | Entre 8°C e 20°C | 40 mm |
Maturação | 18°C | 60 mm/mês |
Mas, como identificar cada uma dessas etapas?
Abaixo, detalhamos cada uma dessas 5 fases de cultivo do trigo:
Plântula
A fase da plântula pode ser considerada a partir do momento de germinação da semente (emergência – 5 a 7 dias após a semeadura) e aparecimento das primeiras folhas verdes, em um período de tempo que varia de 12 a 16 dias.
Perfilhamento
como o nome sugere, é a fase a qual surgem os primeiros perfilhos, ou seja, os primeiros ramos laterais da planta, já mais desenvolvida, tendo uma duração média de 15 a 17 dias.
Alongamento
Nesta etapa, aparece o primeiro nó do colmo, ou seja, o caule da planta. Assim, ela passa a crescer e surge a folha-bandeira, a última da planta. Essa é uma fase que tem uma duração aproximada de 15 a 18 dias, finalizando no emborrachamento.
Espigamento
a fase do espigamento se dá após o desenvolvimento da espiga, sua floração e frutificação, com o aparecimento dos grãos, que dura entre 12 e 16 dias.
Maturação
Por fim, a maturação, que pode ser identificada a partir do enchimento dos grãos, sua maturação com folhas e secagem da espiga. Essa é a etapa mais longa, variando entre 30 e 40 dias.
Todo o processo de cultivo do grão pode durar de 100 a 170 dias, dependendo das condições edafoclimáticas, ou seja, do solo e do clima.
Quando acontece a colheita do trigo?
Como vimos, o período do ano de desenvolvimento de planta varia de região para região, se adequando conforme as condições climáticas de cada parte do país.
Em geral, após 110 e 120 dias do plantio, o grão já apresenta condições de colheita, com a planta ostentando uma coloração amarelada, espigas com peso e grãos duros.
Outro cuidado que é preciso ter neste momento é com a umidade do grão, logo que esta variante influencia muito na forma de armazenamento do grão e valor de venda.
O recomendado é que ela esteja em até 13%.
Em casos aos quais é preciso realizar a colheita antes de atingir esse percentual de umidade por motivos diversos, como ao evitar períodos de chuva, é indicada a secagem dos mesmos antes de sua armazenagem.
Como é feita a colheita de trigo?
Sem dúvidas, a melhor maneira de realizar a colheita do trigo é por meio de máquinas colheitadeiras que, além de colher o grão, também os descascam e os limpam, simultaneamente.
Porém, em plantações menores, a colheita também é feita de forma manual, cortando o trigo maduro, amarrando-o em feixes e preparando-o para a secagem, sendo batidos para a retirada dos grãos, no processo conhecido como debulha ou trilha.
Colheita de trigo manual x mecanizada: entenda as diferenças
Como você viu, há dois modos de se realizar a colheita do trigo: de forma manual ou mecanizada.
O primeiro ponto que temos que ter em mente é que não existe um método melhor que o outro, mas sim, características distintas que se adequam às diferentes necessidades.
A colheita manual do trigo, como mostramos, é feita, literalmente, com a força braçal do trabalhador rural, colhendo e retirando o grão da planta com ferramentas simples, como a foice, e realizando todo o trabalho sem o auxílio de máquinas.
Embora mais trabalhoso, demorado e exaustivo, a colheita manual permite uma maior preservação do solo, danificando menos a terra para o próximo plantio, além de ser ecologicamente mais sustentável, ao degradar menos o meio ambiente.
Por sua vez, a colheita mecanizada é realizada por meio de máquinas colheitadeiras que, além de colher o grão, já o prepara para o ensacamento e armazenamento.
Tais máquinas permitem uma maior cobertura da lavoura no momento de colheita do trigo e, com a utilização de dispositivos da agricultura de precisão, como o GPS Agrícola, o trabalho é ainda mais otimizado, acelerando, e muito, o processo de colheita, sem a perda do grão no processo.
Por isso, a colheita mecanizada é indicada para grandes plantações, as quais o trabalho manual pode não dar conta. Além disso, essa forma de trabalho também apresenta mais salubridade e segurança aos trabalhadores do campo.
4 pontos para fazer uma colheita de trigo eficiente
Assim como diversos grãos, como o café e a soja, a colheita do trigo também necessita de cuidados para assegurar a qualidade do grão na hora da venda.
Por isso, acompanhe essas dicas de especialista:
1. Regule a colheitadeira
Ao longo do tempo de uso das máquinas agrícolas, é comum sua desregulação.
Logo, atente-se a isso, visto que para cada umidade do grão de trigo, há uma adaptação específica para toda máquina.
Antes de utilizá-las, cheque o nível de umidade do trigo, bem como o manual de uso, verificando a folga entre o cilindro e sua velocidade.
Assim evita-se grandes perdas no momento da colheita do trigo.
2. Verifique a umidade do grão
Esse é um dos pontos cruciais da colheita, logo que ele será determinante para o momento mais aguardado da produção: a venda.
A umidade ideal do grão para a colheita do trigo é de até 13%, podendo ser verificada utilizando medidores de umidade, essenciais nessa etapa.
3. Acompanhe o desenvolvimento da plantação
Como vimos, a umidade e temperatura do solo são essenciais para o bom cultivo da plantação.
Por isso, variações climáticas prejudicam seu desenvolvimento e necessitam serem observadas, logo que, se suas ações estão afetando a planta, medidas precisam ser tomadas, como a irrigação mecânica, em épocas de pouca chuva.
Pragas como a Broca-do-colo ou lagarta-elasmo também são muito recorrentes. Nestes casos, utilizar defensivos agrícolas à base de Pendimethalin ou Bentazon é a melhor solução.
4. Cuidados com o pós-colheita
Como o percentual de umidade ideal para a colheita do grão de trigo é de 13%, quando a colheita é realizada com um percentual maior que esse, é necessária a realização da secagem para o grão não se deteriorar no armazenamento, podendo ser realizada com ar aquecido, ou ao ar livre.
Para sua armazenagem, esse cuidado é essencial, logo que necessitam ser guardados secos e em temperaturas abaixo de 18°C, monitorados por termopares dentro dos armazéns.
Após o ensacamento, o acompanhamento da umidade continua sendo necessário, e caladores são ferramentas essenciais nesse acompanhamento, sem prejudicar o grão.
Como evitar perdas na colheita de trigo?
Perdas nas plantações são algo inerente ao processo de cultivo.
Pelos padrões internacionais, é comum a perda de até 1 saco por hectare, revela a Embrapa, sendo toda perda acima deste nível considerada desperdício.
No Brasil, porém, estima-se que as perdas sejam de 2 sacos por hectare, um valor extremamente expressivo.
Como, então, reduzir tal prejuízo?
Algumas práticas podem contribuir nessa redução e, para isso, podemos classificar tais perdas em:
1. Pré-colheita
Como o nome sugere, são perdas relacionadas a ações que ocorrem antes da colheita do trigo em si, no processo de amadurecimento da planta.
Acamamento de planta (quando a mesma se inclina), infestação de pragas e condições meteorológicas são alguns exemplos.
Neste tipo de perda, a solução é acompanhar o desenvolvimento da plantação e realizar ações pontuais para os problemas em questão (aplicação de defensivos, irrigação mecanizada…).
2. Plataforma de corte
Tais perdas estão relacionadas ao maquinário de colheita, em especial, quando não bem regulado ou incompatível com a quantidade de linhas de semeadura.
A solução neste tipo de perda é ajustar a máquina para a realidade e necessidade da plantação, regulando velocidade de deslocamento, altura da plataforma de corte, e espaço entre brocas e cilindros, que mencionamos anteriormente.
3. Sistema de trilhas e separação
Aqui também se aplica problemas de má regulagem do maquinário, porém, na parte de separação e limpeza dos grãos.
Tais perdas podem ser contornadas ao não sobrecarregar o saco-palha, e também no ajuste de função da abertura das peneiras, suas limpezas e velocidade de rotação do ventilador.
Um grão que requer grandes cuidados
Afinal, só o trabalhador do campo conhece o grande processo por trás do pãozinho francês, feito de trigo, que chega aos lares de todo o Brasil e também do mundo.
Por isso, seguir todas essas dicas é um passo fundamental para que o cultivo deste grão seja expressivo e lucrativo.