Você sabia que o consumo de vinho aumentou entre os brasileiros nos últimos anos?
Segundo relatório divulgado pela Diretoria de Agronegócio do Itaú BBA, o consumo de vinho no Brasil teve um aumento de 18,4% em 2021 quando comparado ao ano anterior, contrariando a tendência mundial de queda no consumo.
Em 2022 não foi diferente, logo que já em fevereiro do ano passado o consumo do produto aumentou em quase 35% em relação ao mesmo período de 2021, de acordo com os números divulgados pela União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra).
São dados que indicam um mercado aquecido e uma enorme demanda do seu principal produto: a uva.
Mas, como realizar uma boa colheita da uva, extrair o cacho no ponto certo e utilizar os melhores métodos para aproveitar esse bom momento do mercado?
É o que apresentaremos a você neste artigo.
Qual é a época da colheita da uva?
O processo de colheita da uva inicia-se de 30 a 70 dias após o aparecimento das uvas, sendo a mudança de coloração o indicativo de amadurecimento ideal para sua extração do vinhedo.
No caso, quando a coloração transita do vermelho para o roxo em variedades vermelhas e do verde para o amarelo em variedades verdes.
Tratando-se do calendário anual, geralmente o período de colheita é durante o verão, tanto no hemisfério sul quanto no hemisfério norte.
Sendo do final de dezembro ao final de março, no sul, e final de junho até final de setembro no norte.
Vale ressaltar, que no Brasil, por exemplo, a colheita da uva acontece de janeiro a março, na maioria das regiões.
É importante ressaltar que essas janelas de meses para a colheita devem-se ao fato da ampla variedade de uvas existentes e suas características distintas.
E justamente por isso, vários fatores ambientais exercem influência sobre a qualidade final de cada variedade de uva, tais como:
- Variações climáticas;
- Tipo de solo;
- Localização de plantio;
- Técnica de crescimento.
Além do mais, para cada espécie de uva há um estágio de maturação desejado para preservação das suas características e qualidades.
Ou seja, não é uma tarefa fácil definir o momento certo para colheita da uva, logo que há grandes possibilidades para isso.
Por tanto, é importante o produtor ter em mente quais características deseja extrair de seu plantio, de acordo com a destinação do produto.
Pensando no aproveitamento do mercado aquecido pelo consumo de vinho, ao cultivar uvas para esse tipo de comercialização, leve em consideração aspectos como:
Vinho Tinto
- A proporção de açúcar-ácidos;
- Os conteúdos fenólicos;
- Taninas;
- Flavonoides.
Vinho Branco
- A proporção de açúcar-ácidos;
- Os aromas.
São aspectos bem específicos e, por isso, após a maturação do fruto, é muito comum produtores de uva realizarem um acompanhamento diário para verificar o estágio atual da uva e evitar possíveis perdas por infecções ou danos.
Para isso, porém, também é preciso entender como funciona o ciclo de uma videira, que é o que mostraremos a seguir.
As 4 etapas do ciclo de uma videira
O ciclo de uma videira depende (e muito) das condições climáticas às quais estará exposta, sendo estas essenciais para uma boa safra e, consequentemente, um bom produto extraído do fruto.
Sendo assim, temos o verão e a primavera como tempos de produção e o outono e inverno como tempo de descanso.
Desta forma, cada estação do ano corresponde, em sua grande maioria, a uma etapa no ciclo de vida da videira, sendo elas:
1. Dormência
O estágio de dormência da videira inicia-se no final do outono e se estende por todo o inverno.
É nessa época que a árvore fica completamente sem folhas e com aparência de morta. Porém, essa é uma estratégia da videira para se manter viva, logo que estará exposta às baixas temperaturas destas estações.
2. Brotação
Com o fim do inverno e chegada da primavera, a temperatura volta a subir e a videira torna-se ativa novamente.
Nessa época, a árvore passa por um processo conhecido como “choro”, fenômeno no qual a planta passa a perder seiva devido ao aquecimento do solo e atividade das raízes que começam a absorver água e minerais, causando pressão interna nos caules.
A fase da brotação entra no seu auge de 20 a 30 dias após o início do “choro” que, conforme as condições de temperatura, solo e retenção de substâncias (como água e minerais) da planta, começa a formar os primeiros brotos.
Com os brotos abrindo, surgem as primeiras folhas da videira.
3. Floração
A floração, por sua vez, inicia-se com o surgimento dos primeiros cachos, caracterizados (como o próprio nome sugere) por minúsculas flores com disposição para a fertilização.
Quando a fertilização acontece, os óvulos formam as “grainhas” e as paredes do ovário aumentam e, assim, são formadas a polpa e a película do bago da uva.
Todo esse processo pode sofrer pequenas variações de acordo com o tipo de uva, como também das condições climáticas as quais a videira estará exposta.
4. Maturação
Durante o verão, até a metade do outono, ocorre a maturação da uva.
É nesse período que se estabelece a qualidade da colheita, visto que é também nessa fase que a concentração de açúcar definirá o tamanho do fruto e o teor alcóolico que o vinho terá, caso a uva seja destinada a esse fim.
Sendo assim, o próximo passo é a efetiva colheita da uva antes de encerrar o ciclo anual da videira, retornando ao estágio de dormência.
3 principais tipos de colheita da uva
E por falar em colheita, quais são os 3 tipos dessa atividade e qual é o melhor para o seu cultivo?
É o que mostraremos a seguir:
1. Colheita Manual
A colheita manual é aquela que vemos muitas vezes em pinturas, filmes e até em descrições da literatura.
Basicamente trata-se da retirada do fruto direto do pé unicamente por meio do esforço humano.
Até os anos de 1960, esse era o único meio de colheita conhecido. Hoje em dia, porém, ele é mais utilizado por pequenos produtores, produtores de vinho de quantidade limitada, em vinhedos de parcela única ou de vinhas mais antigas.
É recomendado também para vinhedos localizados em relevos mais acidentados, nos quais é difícil a utilização de maquinários.
Apesar de representar uma produtividade de trabalho bem menor (são precisos ao menos 10 viticultores para colher 1 hectare de uva, aproximadamente), a colheita manual rende os melhores vinhos e frutos, visto a maior seletividade e minuciosidade na seleção das uvas.
2. Colheita Mecânica
A partir da década de 1960, por tanto, surgiu a colheita mecânica, técnica que se utiliza de máquinas para realizar todo o trabalho que seria destinado ao ser humano.
Com um trabalhador direcionando o maquinário, é possível, em um único dia, cobrir uma extensa área de cultivo. Por isso, é muito indicada para grandes vinhedos planos e para produções em larga escala.
Estudos apontam que o trabalho da colheita mecânica equivale a o de 5 viticultores na relação hora-hectare.
Mas, para ser bem efetiva é preciso alguns cuidados, como:
- Equipamento de boa qualidade;
- Minuciosidade no trabalho por parte do operador da máquina;
- Considerar a distância da vinha à adega;
- O quão protegidas estão as uvas.
Pensando isoladamente na atividade de colheita, nem a manual, nem a mecânica afetam a qualidade do fruto.
Apesar da manual já selecionar os melhores cachos no momento da extração, nada impede que o mesmo seja feito na mecânica após a colheita, dando segmento no processo de comercialização ou produção de vinho apenas com as de melhor qualidade.
O que definirá a qualidade do produto será a escolha do tempo de colheita, estabelecido pelo viticultor e pelo enólogo.
3. Colheita Especial
Existem vinhos produzidos sob condições muito específicas das uvas, nas quais estão congeladas ou sob o processo de um fungo que apresenta um aspecto chamado de “podridão nobre”.
O vinho produzido a partir de uvas congeladas é uma prática quase impossível no Brasil, porém, em algumas regiões da Alemanha ela é adotada.
A atividade consiste em submeter o fruto a uma temperatura de 8° celsius negativos de forma natural, sendo assim, permanecendo por mais tempo no pé.
Quando atingem essa condição, os cachos colhidos são levados diretamente para a adega e os frutos são esmagados imediatamente, mantendo os cristais de gelo e o mosto doce.
Por isso, essa atividade de colheita é comum de ocorrer durante a noite.
Já o vinho feito com base na uva de “podridão nobre”, um fungo ataca lentamente a videira e a colheita é realizada gradativamente, selecionando apenas as uvas sob condições de podridão desejadas.
Porém, relembramos que essas são condições muito específicas e pouco utilizadas no âmbito geral.
Cuidados na pós-colheita da uva
E após a colheita, quais os cuidados necessários para garantir que a uva chegue ao seu destino final em boa qualidade?
Esse é um passo importante para garantir bons lucros com a comercialização deste produto.
Transporte para a casa de embalagem
O primeiro cuidado é no transporte da fruta.
A uva é um fruto muito delicado e sensível a qualquer manipulação. Sendo assim, é importante que o veículo utilizado para essa atividade possua um bom sistema de amortecimento, além de transitar em uma velocidade baixa.
Esses cuidados servem para minimizar a trepidação no transporte, evitando danos devido aos impactos mecânicos.
Quando o caminho for arenoso e/ou o transporte for realizado sob condições de ventania, é indicado que a pista seja molhada para diminuir a incidência de pó sobre a fruta.
Outro cuidado é em relação à perda de água após a colheita pelos cachos que, nesse caso, indicamos a utilização de uma lona plástica de cor clara para evitar a exposição e ação direta do sol sobre eles, como também para garantir a ventilação.
E por falar em sol, deve-se evitar ao máximo os efeitos dele sobre o cacho após a colheita.
Sendo assim, caso necessite uma maior permanência da uva no caminhão, este deve se manter inteiramente na sobra até o descarregamento, sendo este feito de forma manual e com muito cuidado.
Recepção da uva
O local de recepção da uva também precisa manter alguns cuidados, em especial na climatização.
Isso porque, em condições de altas temperaturas, a fruta tende a perder água, diminuindo sua qualidade.
O ideal, por tanto, é que o local seja climatizado a uma temperatura de 20°C, o que reduzirá a temperatura interna das bagas e atividade fisiológica da uva.
Outra técnica também bastante eficaz é a nebulização, que aumenta a umidade relativa do ar e evita a perda de água dos cachos.
Na falta desses recursos, recomendamos a proteção dos contentores do sol e de agentes externos, além de providenciar uma boa ventilação ambiente que reduza o calor acumulado nos cachos.
O registro das informações também é um passo importante nessa etapa. Cada lote deve conter dados como procedência, manejo antes e durante a colheita e hora de entrada para que o processamento seja por ordem de chegada.
É necessário também que seja feita uma avaliação de qualidade, colhendo uma amostragem de alguns cachos e considerando características como peso, diâmetro e defeitos nas bagas, teor de solúveis e acidez titulável.
Operação na casa de embalagem
Após todos esses processos no recebimento da uva, na casa da embalagem a fruta passará por procedimentos que garantirão sua qualidade até o momento de comercialização.
Quando falamos de comercialização interna, tais procedimentos tangem:
- Recepção;
- Limpeza;
- Seleção;
- Classificação;
- Embalagem;
- Pesagem de cachos.
Quando a comercialização é para o mercado externo, além dos procedimentos acima, também são necessários:
- Paletização;
- Resfriamento rápido;
- Armazenamento refrigerado.
Limpeza
A limpeza é o “pente fino” da seleção dos cachos.
Ela visa eliminar as frutas que não estão em boa qualidade, que apresentam características como:
- Bagas imaturas;
- Pobres;
- Murchas;
- Aquosas;
- Molhadas;
- Rachadas;
- Muito pequenas;
- Queimadas pelo sol;
- Com danos visíveis causados por insetos, microrganismos ou pássaros;
- Que apresentam cicatrizes superficiais de aspecto rugoso e áspero e cor escura;
Para ter esse cuidado de eliminar apenas as uvas impróprias para a comercialização, é necessário que seja limpo um cacho por vez, segurando pelo pedúnculo, sem contato com a uva, além de contar com um ambiente bem iluminado.
Além disso, a tesoura utilizada deve ter lâminas curtas, pontas arredondadas ou com pequenas esferas para não machucar as bagas.
Todas as uvas eliminadas devem ser acondicionadas em um recipiente à parte para não se misturar com as de boa qualidade, evitando que microrganismos oportunistas infectem as selecionadas para a comercialização.
Da mesma forma, para que não haja contaminação geral, todo o ambiente e instrumentos de trabalho devem ser limpos periodicamente.
Seleção dos cachos
Após a limpeza, há a seleção dos cachos, que nada mais é que separar para a comercialização os cachos que estão de acordo com o esperado pelo mercado.
Sendo assim, todos os cachos que serão embalados para a venda devem estar:
- Intactos;
- Com bagas de cores e tamanhos uniformes;
- Formato característico e bagas bem distribuídas;
- Aparência de frescos;
- Sem podridões e deteriorações fisiológicas;
- Limpos, livres de poeira e outras sujidades;
- Livres de pragas e danos causados por elas;
- Livres de danos mecânicos acentuados ou causados por baixa temperatura;
- Livres de umidade externa anormal;
- Sem qualquer cheiro ou gosto estranhos;
- Com bagas maduras e aderidas ao pedicelo.
Embalagem
A embalagem deve apresentar as seguintes características:
- Ser nova;
- Limpa;
- De fácil abertura;
- Resistente ao umedecimento;
- Ajustável ao manejo, tamanho e peso dos cachos;
- Resistente ao transporte e ao empilhamento;
- De custo compatível com o valor comercial da uva e que permita a proteção contra danos mecânicos e a dissipação do calor, gás carbônico e vapor de água gerada com a respiração da uva;
- Devem ser acondicionados cachos de mesma origem, cultivar, estádio de maturação, cor, tamanho, formato e classificação.
Em geral, essas embalagens são de papelão, seja para comercialização interna ou externa, devem atender à paletização e ao rápido resfriamento da uva, com orifícios para ventilação e formato que permita o encaixe entre as caixas.
Em alguns casos, outros materiais são utilizados, como:
- Folha (ou sacola) de polietileno de baixa densidade (PEBD) perfurada ou microperfurada;
- Sacos de papel ou de PEBD para cachos
- Papel glassine;
- Cartela de gerador de SO2 e materiais para amortecimento de impactos, como cloreto de polivinil (PVC) polibolha 16 mm ou papel ondulado.
IMPORTANTE!
Todos os papéis ou selos com especificações utilizados nas embalagens devem ser atóxicos e cada embalagem deve trazer essas informações:
- Nome do exportador;
- Embalador ou expedidor;
- Nome do produto, cultivar e tipo comercial;
- País e região onde foi produzido;
- Categoria, tipo e peso.
Pesagem
Cada embalagem suporta uma quantidade específica de peso. Por isso, é importante pesar o cacho antes de acomodar as uvas dentro de qualquer embalagem, evitando danos mecânicos pelo excesso de movimentação ou por compressão, violando as normas comerciais.
Paletização
A paletização trata-se do empilhamento das caixas de uva para facilitação no transporte.
Em geral, é preciso se atentar à altura máxima permitida para evitar arqueação e desalinhamento, garantindo, assim, maior estabilidade no transporte.
Outro ponto é contar com bons equipamentos para garantir a segurança das operações, utilizando-se de paleteiras de boas marcas.
Resfriamento Rápido e armazenamento
O resfriamento consiste em baixar a temperatura dos cachos de 2° a 0° celsius, dependendo da variedade da uva para o seu armazenamento em um ambiente com a umidade relativa do ar ficando entre 85% a 95%, com o intuito de não perder água.
Após essa ação, os paletes devem ser revestidos em filme PVC, com espessura de 0,025 mm ou 0,030 mm, com o objetivo de manter a umidade ao redor do cacho.
Após esse processo, os cachos devem ser armazenados rapidamente em containers que mantenham a mesma temperatura, a qual não deve ser interrompida para evitar que o produto se estrague.
Embalagem no campo
Muitos produtores, porém, realizam a embalagem já no campo, e não na casa de embalagem.
Nesses casos, todos os processos citados aqui devem ser seguidos, porém, a climatização não é um fator possível, além de estar mais exposto a fatores externos.
Sendo assim, alguns cuidados devem ser tomados:
- Cuidar para que a parte superior das mesas de embalagem não sejam afetadas por ventos ou sejam atingidas por fragmentos vegetais ou que componham o empacotamento sobre as uvas;
- Proteger o material de empacotamento do contato com o solo, armazenando-os e utilizando-os sobre local coberto;
- Utilizar a balança em local livre de oscilações por desnivelamento;
- Organizar e priorizar o fluxo de atividade, de forma a facilitar o trabalho de toda a equipe.
Uma atividade milenar que rende bons frutos
Afinal, a produção e colheita da uva é uma tradição em diversas culturas ao redor do mundo, sendo até mesmo celebrada pela maioria delas.
Não por menos, o mercado nacional está aquecido e garantir uma boa colheita é sinônimo direto de bons lucros.
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